Chamadas de Dossiês

Chamada para Dossiê: Democracia e fome

La FAO a exposé ses principes pour protéger le monde des famines en encourageant depuis le début des années 2010 l’agriculture paysanne car les paysans sont les premiers exposés par la faim aujourd’hui.

Quando Josué de Castro fez da fome um sujeito científico, ele observou que há fome “absoluta” e fome “oculta”, e que a fome oculta geralmente resulta de desigualdades sócio-econômicas (CASTRO, 1984, 1965 e 1968) e é mais perigosa porque está escondida. Josué de Castro dedicou sua vida a combater a fome e a mostrar que ela é um mal perverso, pois a má nutrição impede o pleno desenvolvimento intelectual, cognitivo e físico das pessoas, especialmente das crianças.

O Brasil é um país de paradoxos: é o país de origem do teórico da fome, mas foi somente em 2014 que deixou o Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU). Isto é graças às políticas públicas que foram implementadas não apenas para combater a fome em si, mas também para melhorar o poder de compra da população, desenvolver a agricultura familiar, os pequenos agricultores etc. Entretanto, com o desmantelamento do Estado iniciado pelo Golpe parlamentar de 2016, o Brasil retornou ao Mapa da Fome da ONU em 2022, apesar de ser um dos maiores agro-exportadores de commodities e alimentos do mundo, um dos celeiros do mundo.

Assim, podemos ver a ligação entre um certo tipo de democracia e a fome. Quando a democracia é confiscada pelo agronegócio, quando os Estados priorizam as exportações para ganhar divisas em vez de alimentar primeiro a população local, então o que aconteceu em 2008 acontece novamente: o mercado global torna os suprimentos instáveis e as pessoas ficam expostas à escassez e depois à fome. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estabeleceu seus princípios para proteger o mundo da fome, promovendo a agricultura camponesa desde o início dos anos 2010, já que os camponeses são os primeiros a serem expostos à fome hoje.

Para combater a fome no Brasil, são necessárias políticas públicas não só para garantir a produção de alimentos, mas também seu consumo. Josué de Castro havia proposto a instituição de um salário mínimo no Brasil e a composição da cesta básica de alimentos. Esta é a base sobre a qual a soberania alimentar deve ser recuperada.

Organizadores:

Prof. Dr. Gilles Fumey - Professor de Geografia da alimentação, Sorbonne-Université (Paris)

Profa. Dra Ana Letícia Espolador Leitão - Doutora em Geografia

Prazo para envio dos artigos: 26/05/2023 - Os artigos devem ser enviados na nossa aba "Submissões na seção "Dossiê". 

Bibliografia:

CASTRO, Josué de. Geografia da fome (o dilema brasileiro: pão ou aço). 10. ed. revista. Rio de Janeiro: Antares, 1984. URL : https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxib2RlZ2FkYWdlb2dyYWZpYXxneDo1ZTJmNzBkYzk3ZmY4NmQz

CASTRO, Josué de. Geopolítica da fome: ensaio sobre os problemas de alimentação e de população do mundo. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1965.

CASTRO, Josué de. O livro negro da fome. São Paulo: Brasiliense, 1968. 3. ed.